Centenas de pessoas foram até a Escadinha da Estação das
Docas, em Belém, neste domingo (16), para o primeiro cortejo de 2013 do grupo
"Arrastão do Pavulagem". Realizado há 26 anos na capital paraense, o
percurso começa com o boi-bumbá azulado desembarcando do cortejo fluvial na
escadinha, depois segue pela avenida Presidente Vargas até a Praça da
República, onde o público se reúne para cantar os sucessos da banda, que se
apresenta e traz convidados.
Os brincantes se enfeitam com chapéus de
palha com fitas coloridas e seguem pela avenida ao som de ritmos de quadrilha,
xote e retumbão. Com o passar dos anos, a programação acabou se integrando às
comemorações juninas de Belém.
A jornalista Dede Mesquita estima que
participa do cortejo há mais de dez anos. Ela conta que o faz com uma emoção
muito grande. "Ficaria, com certeza, bem triste, se não pudesse participar
a cada ano. Na verdade, tenho mesmo vontade é de pegar as barricas, as maracas
e participar mais ativamente. É lindo ver o Batalhão das Estrelas", diz.
Para Dede, um dos momentos mais bonitos do
cortejo é quando os brincantes levantam os chapéus e balançam as fitas
coloridas para cima. "É lindo. Eu sei que tem bois em outros lugares do
Brasil e até do Pará, mas essa forma do Pavulagem de utilizar ritmos como o
retumbão, o carimbó e a toada de boi é que fazem desse boi algo muito especial.
Domingo, estarei lá para acompanhar, mais uma vez, o arrastão das iniciais BP,
Boi Pavulagem".
Participar do arrastão, especialmente pelo motivo
cultural, é de extrema importância para o multimídia Arthur Farias.
"Dançar e cantar as músicas nossas, da terra, e, principalmente, trazer as
pessoas para a rua e manter contato com a nossa cultura. O arrastão para mim
trouxe motivos para tornar junho o melhor mês do ano, o mais alegre e
entusiasmado", afirma.
Arthur acompanha o cortejo somente há dois
anos, mas em 2012 já fez parte da comitiva de puxadores do arrastão. "Eu
participo do grupo dos pernaltas. No cortejo, primeiro vem dança, depois vem o
boi, atrás a percussão, e os pernaltas por último. Com pernas e pau e a cara
pintada, a gente busca trazer a alegria circence para os brincantes",
explica o multimídia, que lamenta não ter ido neste domingo, mas se planeja
para ir em todos os cortejos seguintes deste ano. "Estou triste porque
queria ter ido hoje mesmo sem poder subir na perna de pau e maquiar alegria no
rosto, pelo simples fato de estar pertinho do coração da cultura da
gente".
Este ano, uma tradição do arrastão foi apresentada de
forma diferente. A cerimônia dos mastros de São João, que até 2012 eram
erguidos e fincados na chegada do primeiro cortejo junino à Praça da República,
ocorreu na última quinta-feira (13) durante o Ensaio Geral para o arrastão, na
Praça dos Estivadores, em frente à sede do Instituto Arraial do
Pavulagem. Os mastros serão derrubados na saída do último cortejo, marcado
para o dia 7 de julho, e seguem com o cortejo até a Praça da República.
A evolução do Arrastão
Junior Soares, um dos fundadores do Arraial do Pavulagem, explica que o "Boi Pavulagem do Teu Coração", nome pelo qual o Arrastão era chamado, acontecia na área da Praça da República, e servia para chamar as pessoas para o show da banda do Instituto.
Junior Soares, um dos fundadores do Arraial do Pavulagem, explica que o "Boi Pavulagem do Teu Coração", nome pelo qual o Arrastão era chamado, acontecia na área da Praça da República, e servia para chamar as pessoas para o show da banda do Instituto.
"Arraial é o lugar onde o Boi vai
dançar. Então mudamos o nome para 'Arraial do Boi Pavulagem'. Com o tempo,
fomos expandindo os ritmos e já tocávamos não só boi-bumbá, mas retumbão,
quadrilha, xote, e a palavra 'boi' acabou sumindo, até que chegamos ao 'Arraial
do Pavulagem'", relembra.
A praça ficou pequena para o número de
participantes e o cortejo começou a passar por outras ruas de Belém. Soares
destaca a preocupação em sempre manter um diálogo com o público, para que a
população ajude a resguardar a tradição.
"É muito bonito de ver as pessoas se
envolvem emocionalmente, e sempre ressaltamos que é preciso haver uma
compreensão de que os festejos são realizados em lugares públicos então, não
pode sujar, não pode deixar lixo, nem destruir as coisas. É até uma questão
legal, para que a gente possa continuar fazendo o Arrastão todos os anos",
explica.