O Ministério Público do Estado (MPE) anunciou nesta sexta-feira (14), em
entrevista coletiva, que o prefeito de Santa Cruz do Arari, na Ilha do Marajó,
Marcelo Pamplona (PT), é reincidente em ordenar a caça de cães no município. O
caso foi denunciado no final de maio, quando foi instaurado um Inquérito Civil
Público (ICP) pelo MP para apurar o possível uso de dinheiro público na ação, o
que caracteriza improbidade administrativa.
De acordo com o procurador de justiça Nelson Medrado, o uso de verba
pública já pode ser comprovado e o prefeito já autorizou a mesma medida, também
com verbas municipais, em seu primeiro mandato, de acordo com informações
preliminares sobre o caso.
"O prefeito estava na cidade. Ele não pode alegar desconhecimento
dessa ação, por isso ele vai ser, sim, processado por improbidade
administrativa. A ação foi coordenada pela administração municipal, foram
utilizados recursos públicos, barcos públicos. No segundo ano do mandato
passado foi feita, com verba pública, uma retirada dos cães da cidade, que
foram distribuídos pelas fazendas de áreas rurais da cidade”, informou Medrado.
O Ministério Público recebeu ainda denúncias de que o gestor municipal
estaria tentando impedir as investigações com suborno à população e que também
teria tentado evitar que as embarcações com ração doadas para os cães
resgatados, após mobilização social, aportassem na cidade.
Segundo o MP, o prefeito chegou a pedir que a polícia interviesse na
destruição do alimento dos animais alegando que o navio trazia material ilegal
ou ração imprópria para consumo. O pedido foi negado e anexado às
investigações.
Os cães que foram resgatados estão na Ilha do Francês, que fica a seis
horas de Santa Cruz do Arari, estão sendo mantidos com doações e auxílios de
ONGs.
O CASO
Representantes do Ministério Público passaram dois dias no município durante esta semana e colheram depoimento de nove pessoas, em oito oitivas realizadas com moradores e servidores da prefeitura. O prefeito deve ser o último a ser ouvido durante o inquérito. Além de Medrado, participaram da apuração as promotoras de justiça Fabia Melo e Jeane Oliveira.
Representantes do Ministério Público passaram dois dias no município durante esta semana e colheram depoimento de nove pessoas, em oito oitivas realizadas com moradores e servidores da prefeitura. O prefeito deve ser o último a ser ouvido durante o inquérito. Além de Medrado, participaram da apuração as promotoras de justiça Fabia Melo e Jeane Oliveira.
Segundo o MP, foi feita uma divulgação prévia na cidade de que nos dias
28 e 29 de maio deste ano a prefeitura pagaria R$ 5 por cada cão macho e R$ 10
pelas fêmeas que fossem capturadas. Também existiriam indícios de que as
pessoas que caçaram os cães sejam funcionários públicos.
Ainda de acordo com relatos colhidos, o MP informou que no dia 28 de
maio, no ginásio de esportes da cidade, o irmão do prefeito estava anotando em
um caderno o nome do cidadão e a quantidade de cães macho e fêmea recebida e o
valor a ser recebido pela captura. No dia 29, a entrega de cães continuou na
casa do pai do prefeito, que é também presidente da câmara municipal de Santa
Cruz de Arari.
O Ministério Público informou ainda que deve voltar em breve à cidade
para coletar mais informações.
PENA
Além do Inquérito Civil Público, o MP informou que foi instaurado também um procedimento Investigatório Criminal (PIC) para apurar os crimes de maus tratos, previstos na lei 965/98, a de crimes ambientais.
Além do Inquérito Civil Público, o MP informou que foi instaurado também um procedimento Investigatório Criminal (PIC) para apurar os crimes de maus tratos, previstos na lei 965/98, a de crimes ambientais.
A pena por crime de maus tratos contra os animais prevê detenção de três
meses a um ano de cadeia. A pena pode aumentar por crimes conexos, pelas
consequências do ato em si, e pelas irregularidades administrativas do caso,
como o possível uso de dinheiro público e o uso de barco da prefeitura.
ENTENDA O CASO
A população de Santa Cruz do Arari, na Ilha do Marajó, denunciou à caça a cães instituída pelo prefeito Marcelo Pamplona (PT). Segundo os moradores, a prefeitura, no último dia 28, pagou pela caça de cães e cadelas, e os animais apreendidos teriam sido mortos.
A população de Santa Cruz do Arari, na Ilha do Marajó, denunciou à caça a cães instituída pelo prefeito Marcelo Pamplona (PT). Segundo os moradores, a prefeitura, no último dia 28, pagou pela caça de cães e cadelas, e os animais apreendidos teriam sido mortos.
O prefeito reconhece que fez a captura dos cachorros, mas nega que tenha
matado os animais: segundo ele, os bichos foram levados para a zona rual do
município, já que estariam causando a proliferação de doenças na cidade. Vídeos registraram
cachorros sendo laçados por crianças e levados até canoas, onde foram
amontoados no porão da embarcação. Amarrados, os animais aparecem com diversos
ferimentos. As imagens mostram ainda vários animais mortos abandonados no rio
da cidade.
A Delegacia de Meio Ambiente (Dema), da Polícia Civil, abriu inquérito,
na terça-feira (4), para apurar o caso. Na próxima quinta-feira (6), uma equipe
da delegacia deve chegar a Santa Cruz do Arari para apurar as denúncias sobre o
caso.
O Ministério Público Estadual (MPE) também instaurou inquérito civil
para investigar as denúncias. No documento, assinado pela promotora Jeanne
Maria Farias de Oliveira, uma análise preliminar de imagens onde os cães
aparecem amarrados e alojados dentro de um barco, podem configurar crueldade
com animais, conduta passível de responsabilização civil e criminal.
O secretário de transportes do município, Luiz Beltrão, foi exonerado do
cargo. De acordo com o prefeito Marcelo Pamplona (PT), o afastamento ocorreu
porque Beltrão teria permitido, sem a autorização da prefeitura, o uso de uma
embarcação municipal durante a captura de cachorros no último dia 28 de maio
O afastamento de Beltrão ocorreu na quinta-feira (6), via telefone.
"Eu estava em Belém, mas liguei para a prefeitura e solicitei o
afastamente imediato dele, porque vi nas imagens um barco da prefeitura sendo
usado para enviar oa cachorros para fora da cidade", relatou Pamplona ao
G1 em entrevista neste sábado (8).